Cirurgia autônoma: IA realiza procedimento realista sem interferência humana
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- há 5 dias
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Sistema foi treinado com vídeos e comandos de voz para executar a retirada de vesícula de um porco morto

Um robô cirúrgico desenvolvido por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, realizou, pela primeira vez, uma cirurgia realista de forma completamente autônoma — sem qualquer interferência direta de seres humanos.
A operação, que envolveu a retirada da vesícula biliar de um porco morto, foi conduzida por um sistema de inteligência artificial treinado a partir de vídeos de procedimentos médicos e instruções por voz. Segundo os cientistas, trata-se de um marco inédito no campo da robótica médica.
Cirurgia com precisão humana
O robô, batizado de SRT-H (Hierarchical Surgical Robot Transformer), foi projetado para interpretar imagens médicas em tempo real, seguir comandos de linguagem natural e adaptar-se a mudanças inesperadas no cenário cirúrgico — uma capacidade até então restrita a cirurgiões humanos.
De acordo com o artigo publicado na revista Science Robotics, o sistema alcançou níveis de precisão comparáveis aos de profissionais experientes. Ele conseguiu lidar com desafios como variações anatômicas entre os porcos e simulações de sangramento, sem a necessidade de intervenção humana direta.
De aprendiz a cirurgião
Ao todo, o robô foi treinado com 17 horas de vídeo e mais de 16 mil movimentos cirúrgicos catalogados, todos realizados por humanos em cadáveres de porco. As imagens foram acompanhadas de legendas detalhadas, permitindo que o sistema compreendesse não apenas os gestos, mas o raciocínio por trás de cada etapa.
Após o treinamento, o SRT-H executou a cirurgia completa em oito cadáveres, concluindo com êxito todas as 17 etapas do procedimento, como localizar os ductos biliares, prender artérias e realizar cortes com precisão milimétrica.
Autonomia e autocorreção
O robô demonstrou ainda uma impressionante capacidade de autocorreção: em média, realizou seis ajustes por cirurgia, como reposicionar instrumentos ou repetir movimentos que não obtiveram sucesso na primeira tentativa. Em alguns casos, chegou a solicitar a troca de ferramentas por meio de comandos de voz — única parte do processo que exigiu auxílio humano.
“Estamos diante de um ponto de virada. Esse robô não apenas executa comandos, ele compreende procedimentos cirúrgicos”, afirmou Axel Krieger, professor da Johns Hopkins e líder do projeto.
Inteligência artificial que opera
A base do SRT-H é um modelo de aprendizado de máquina semelhante ao usado por sistemas como o ChatGPT, capaz de interpretar comandos de linguagem natural como "segure o ducto biliar" ou "mova a câmera dois centímetros para a esquerda". Esse tipo de arquitetura permite uma interação mais fluida e adaptável durante procedimentos delicados.
Para Ji Woong “Brian” Kim, principal autor do estudo, a pesquisa comprova que “modelos de IA podem atingir um nível de confiança e segurança suficiente para operar com autonomia”. Kim, atualmente pesquisador em Stanford, destaca que isso “abre caminho para uma nova geração de robôs médicos”.
O futuro da cirurgia robótica
O novo avanço representa um salto em relação ao experimento de 2022, quando o mesmo grupo realizou a primeira cirurgia autônoma em um animal vivo — mas ainda sob condições altamente controladas.
Agora, com o SRT-H, os pesquisadores demonstram que robôs cirúrgicos podem atuar de forma independente em cenários realistas, representando uma revolução no treinamento médico, na medicina de emergência e no acesso a cirurgias em regiões remotas.
“É uma conquista que coloca a cirurgia robótica em um novo patamar”, concluiu Danail Stoyanov, do University College London, especialista em IA aplicada à medicina.